sexta-feira, 29 de abril de 2011

'Saudade'

O compromisso com a magia aumenta. Pq me desloca o olhar o peso desse negócio que me pus. Então, o que faço?!: olho bastante pra ti, pra mim e pra todos nós (e te vejo). Ali onde me importa, onde te desejo. (vejo...)

terça-feira, 19 de abril de 2011

aos amigos da Educação do Campo

A construção da 'minha memória coletiva'

'Pessoal' (Coordenadores de pólo, professores efetivos, professores pesquisadores, tutores, alunos e, de forma mais 'chegada', gurias de Santo Antônio da Patrulha): ao final deste eixo escrevo no intuito de parabenizá-los pelo sucesso obtido, pois, foi com imensa dedicação que concluímos esta difícil e instigante empreitada. Então, a todos, incluindo a mim, parabéns
Seguindo, enfatizo que as memórias que eu apresento por aqui dizem respeito a nossa coletividade em ação. O que quero dizer com isso?! Que me concentro aqui em descrever alguns momentos particulares que me levaram a produzir conhecimento, juntamente com meus ‘colegas de moodle’, a respeito de algumas questões que envolvem, de uma forma mais ampla, o EAD e a Educação do Campo. 
De novo, então, darei uma 'certa prioridade' as gurias com os quais tive um contato mais próximo, para falar sobre aquelas questões.
Sobre as instrumentalidades do moodle, no que concerne de nossas dificuldades e conquistas, lembro de conversar com a Adriana dos Santos, sobre o problema inicial das senhas de acesso, o que acarretava atraso na entrega dos trabalhos. Acredito que tal problema tenha também afligido Cleusa e Gioconda que, como eu, chegaram um pouco depois. Como adentrei à tutoria uma semana antes do início das aulas, creio que as angustias delas, em determinado momento, foram também as minhas. Do mesmo modo, a cada trabalho entregue por elas e, na minha leitura e retorno daqueles, era como se a angústia se transformasse em satisfação na continuidade de nosso processo.
Sobre as questões ‘internéticas’ da linguagem, agradeço muito a Adriana de Oliveira pelas conversas que me fizeram atualizar idéias já há algum tempo desenvolvidas na lingüística. É sempre muito produtivo pensar sobre o ambiente virtual e seu texto verbal e não verbal escrito, pelo qual ‘dizemos’ nosso trabalho.
Com Andressa Medeiros, lembro de conversar sobre a importância do ‘pensamento coletivo’, no momento que ela buscava estratégias para realização de um dos trabalhos em grupo. Já com Bruna, discuti o processo de orientação dos alunos no curso. Redescobrimos que tratamos aqui da potencilaização de um processo de produção coletiva, e que um mero produto, cada vez importa menos.
Ana Flavia, Ana Paula Corteletti, Anajara, Andressa Nunes, Bárbara, Claudine, Daniela Portal, Eva, Fernanda dos Santos e Helemari comprovaram que através de seus trabalhos foram capazes de grandes conversas. Isto me levou a imaginar que, realmente, a anunciação e reanunciação de uma idéia são bem menos importantes que a sua realização de fato.
Carmem Patrícia me mostrou que, do ‘alto de meus 33 anos’, “eu não sou jovem de mais pra saber tudo”, como nos diz Oscar Wilde. Sua experiência e tranqüilidade saltaram aos olhos e me apontaram um ótimo caminho a seguir. Já com Célia, percebi que em um ambiente virtual, com inúmeras linhas de fuga possíveis, a organização é uma ótima aliada e, em Cibeli, encontrei uma futura aliada com incríveis habilidades em informática, o que me lembrou de minhas parcas habilidades.
Gisela me mostrou que para falar de Educação e Cibercultura devemos fazê-lo a partir de nossos pés no chão e que, se fizermos isso com humildade, chegaremos tão longe quanto Elaine é capaz de nos inspirar e apontar em seus trabalhos.
Com Juliana Souza Porfírio fui ‘obrigado’ a reler Paulo Freire, observando que o espírito de sua obra ainda nos é extremamente relevante, mesmo em ‘tempos de informática’. E Ainda, com Luciana Assis da Silveira, percebi que realmente devemos levar a sério o que as pessoas dizem quando realizamos uma entrevista, ou seja, que a história dos historiadores pode não coincidir com o ponto de vista das pessoas com as quais mantemos uma relação social de entrevista.
Enfim, estas são apenas algumas memórias de caráter coletivo que escolhi para descrever um pouco do meu ponto de vista do Eixo I. Memórias que, acredito, perpassam possíveis questões problemáticas do EAD e da Educação do Campo. Espero continuar contando com a ajuda de todos nesta produção coletiva. Como sempre, estou por aqui para uma boa conversa.

Grande abraço e sigamos adiante!

Camilo

terça-feira, 5 de abril de 2011

por um cotidiano prudente: um pequeno grande texto


Introdução à vida não-fascista
Michel Foucault

Preface in: Gilles Deleuze e Félix Guattari. Anti-Oedipus: Capitalism and Schizophrenia, New York, Viking Press, 1977, pp. XI-XIV. Traduzido por wanderson flor do nascimento.

Durante os anos 1945-1965 (falo da Europa), existia uma certa forma correta de pensar, um certo estilo de discurso político, uma certa ética do intelectual. Era preciso ser unha e carne com Marx, não deixar seus sonhos vagabundearem muito longe de Freud e tratar os sistemas de signos - e significantes - com o maior respeito. Tais eram as três condições que tornavam aceitável essa singular ocupação que era a de escrever e de enunciar uma parte da verdade sobre si mesmo e sobre sua época.
Depois, vieram cinco anos breves, apaixonados, cinco anos de júbilo e de enigma. Às portas de nosso mundo, o Vietnã, o primeiro golpe em direção aos poderes constituídos. Mas aqui, no interior de nossos muros, o que exatamente se passa? Um amálgama de política revolucionária e anti-repressiva? Uma guerra levada por dois frontes - a exploração social e a repressão psíquica? Uma escalada da libido modulada pelo conflito de classes? É possível. De todo modo, é por esta interpretação familiar e dualista que se pretendeu explicar os acontecimentos destes anos. O sonho que, entre a Primeira Guerra Mundial e o acontecimento do fascismo, teve sob seus encantos as frações mais utopistas da Europa - a Alemanha de Wilhem Reich e a França dos surrealistas - retornou para abraçar a realidade mesma: Marx e Freud esclarecidos pela mesma incandescência.
Mas é isso mesmo o que se passou? Era uma retomada do projeto utópico dos anos trinta, desta vez, na escala da prática social? Ou, pelo contrário, houve um movimento para lutas políticas que não se conformavam mais ao modelo prescrito pela tradição marxista? Para uma experiência e uma tecnologia do desejo que não eram mais freudianas? Brandiram-se os velhos estandartes, mas o combate se deslocou e ganhou novas zonas. O Anti-Édipo mostra, pra começar, a extensão do terreno ocupado. Porém, ele faz muito mais. Ele não se dissipa na difamação dos velhos ídolos, mesmo se divertindo muito com Freud. E, sobretudo, nos incita a ir mais longe.
Seria um erro ler o Anti-Édipo como a nova referência teórica (vocês sabem, essa famosa teoria que se nos costuma anunciar: essa que vai englobar tudo, essa que é absolutamente totalizante e tranquilizadora, essa, nos afirmam, “que tanto precisamos” nesta época de dispersão e de especialização, onde a “esperança” desapareceu). Não é preciso buscar uma “filosofia” nesta extraordinária profusão de novas noções e de conceitos-surpresa. O Anti-Édipo não é um Hegel pomposo. Penso que a melhor maneira de ler o Anti-Édipo é abordá-lo como uma “arte”, no sentido em que se fala de “arte erótica”, por exemplo. Apoiando-se sobre noções aparentemente abstratas de multiplicidades, de fluxo, de dispositivos e de acoplamentos, a análise da relação do desejo com a realidade e com a “máquina” capitalista contribui para responder a questões concretas. Questões que surgem menos do porque das coisas do que de seu como. Como introduzir o desejo no pensamento, no discurso, na ação? Como o desejo pode e deve desdobrar suas forças na esfera do político e se intensificar no processo de reversão da ordem estabelecida? Ars erotica, ars theoretica, ars politica.
Daí os três adversários aos quais o Anti-Édipo se encontra confrontado. Três adversários que não têm a mesma força, que representam graus diversos de ameaça, e que o livro combate por meios diferentes.
1) Os ascetas políticos, os militantes sombrios, os terroristas da teoria, esses que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político. Os burocratas da revolução e os funcionários da verdade.
2) Os lastimáveis técnicos do desejo - os psicanalistas e os semiólogos que registram cada signo e cada sintoma, e que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta.
3) Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico (embora a oposição do AntiÉdipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini - que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora.
Eu diria que o Anti-Édipo (que seus autores me perdoem) é um livro de ética, o primeiro livro de ética que se escreveu na França depois de muito tempo (é talvez a razão pela qual seu sucesso não é limitado a um “leitorado” [“lectorat”] particular: ser anti-Édipo tornou-se um estilo de vida, um modo de pensar e de vida). Como fazer para não se tornar fascista mesmo quando (sobretudo quando) se acredita ser um militante revolucionário? Como liberar nosso discurso e nossos atos, nossos corações e nossos prazeres do fascismo? Como expulsar o fascismo que está incrustado em nosso comportamento? Os moralistas cristãos buscavam os traços da carne que estariam alojados nas redobras da alma. Deleuze e Guattari, por sua parte, espreitam os traços mais ínfimos do fascismo nos corpos.
Prestando uma modesta homenagem a São Francisco de Sales, se poderia dizer que o Anti-Édipo é uma Introdução à vida não fascista
Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, que sejam elas já instaladas ou próximas de ser, é acompanhada de um certo número de princípios essenciais, que eu resumiria da seguinte maneira se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana:
- Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante;
- Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e
disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal;
- Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é produtivo, não é sedentário, mas nômade;
- Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária;
- Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;
- Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”;
- Não caia de amores pelo poder.
Poder-se-ia dizer que Deleuze e Guattari amam tão pouco o poder que eles buscaram neutralizar os efeitos de poder ligados a seu próprio discurso. Por isso os jogos e as armadilhas que se encontram espalhados em todo o livro, que fazem de sua tradução uma verdadeira façanha. Mas não são as armadilhas familiares da retórica, essas que buscam seduzir o leitor, sem que ele esteja consciente da manipulação, e que finda por assumir a causa dos autores contra sua vontade. As armadilhas do Anti-Édipo são as do humor: tanto os convites a se deixar expulsar, a despedir-se do texto batendo a porta. O livro faz pensar que é apenas o humor e o jogo aí onde, contudo, alguma coisa de essencial se passa, alguma coisa que é da maior seriedade: a perseguição a todas as formas de fascismo, desde aquelas, colossais, que nos rodeiam e nos esmagam até aquelas formas pequenas que fazem a amena tirania de nossas vidas cotidianas.
 (1) Francisco de Sales. Introduction à la vie devote (1064). Lyon: Pierre Rigaud, 1609.

Texto disponível em Espaço Michel Foucault – www.filoesco.unb.br/foucault